“Minha pele está toda empolada. O que é isso?”
A urticária é uma condição fácil de ser identificada tanto pelo médico quanto pelos pacientes, determinada pelo aparecimento de urticas, angioedema ou ambos.
É uma lesão avermelhada, que faz um relevo na pele, pode ficar quente no local do aparecimento, e causam muita coceira ou queimação.
Essa lesão aparece de forma súbita, rápida e pode migrar de um local para o outro, e quando desaparecem não deixam nenhuma marca ou cicatriz na pele.
Podem aparecer em qualquer lugar do corpo, de forma isolada ou agrupadas, formando placas maiores.
Em alguns pacientes, essas lesões podem vir associadas do angioedema, edema das mucosas como lábios, pálpebras, região genital, ou até mesmo, mãos e pés, que pode cursar com sensação de dor e se resolve mais lentamente que as urticas, podendo durar até 72 horas.
3 dicas para aliviar os sintomas físicos da urticária:
- Usar roupas leves e que não apertam.
- Tomar banhos frios.
- Estar com a pele bem hidratada.
Cerca de 20% de toda a população vai apresentar urticária pelo menos uma vez na vida, ou seja, esse é um quadro muito comum.
Quais os tipos de urticária existentes?
- Aguda (até 6 semanas).
- Crônica (> 6 semanas).
Urticária Aguda
É aquela que tem um tempo de duração de até 6 semanas. Ou seja, a urticária aparece e desaparece em até 6 semanas. Essa é a apresentação mais comum, principalmente nas crianças e adultos jovens. Não há recomendação de realizar nenhum exame para investigação diagnóstica de rotina na urticária aguda.
Causas mais comuns:
- Infecções, virais são as mais comuns, como gripes, resfriados, COVID-19; amigdalites, e as infecções bacterianas em menor porcentagem.
- Idiopática: aquelas que ocorrem espontaneamente, sem relação com um desencadeante específico.
- Alimentos mais comuns nas crianças são o leite, ovo e amendoim, e nos adultos o camarão, frutos do mar, nozes e castanhas.
- Medicamentos: os mais comuns sãos os anti-inflamatórios e analgésicos, e os antibióticos em menor escala.
- Venenos de abelhas, vespas e formigas.
Em 50% dos casos não se identifica a causa.
Tratamento:
- Se houver agente desencadeante, afastar o contato com o causador, se possível.
- Antialérgicos ou anti-histamínicos de segunda geração, que são os mais modernos, não sedantes, com menos efeito colateral, e mais segurança.
- Corticoide oral: sempre prescrito com orientação médica, para os casos mais graves e em curto período de tempo.
Quando devo procurar ajuda no pronto-socorro?
Se houver apenas manifestação dos sintomas na pele, com apenas urticária, não é necessário procurar ajuda em pronto-socorro, se tiver receita médica com orientação adequada. Mas se juntamente com a urticária, houver aperto no peito, falta de ar, chiado, vômitos e/ou rouquidão, é necessário procurar atendimento médico imediatamente.
Urticária Crônica
É aquela em que as urticas e/ou angioedema surgem frequentemente por mais de 6 semanas podendo durar meses ou anos, sem encontrar nenhum fator desencadeante externo. A doença pode permanecer em remissão por um tempo e depois retornar novamente.
Essa doença pode ser dividida em dois tipos:
Urticária Crônica Induzida (UCI)
O próprio paciente consegue provocar a urticária, como por exemplo: ao fazer um atrito na pele (dermografismo), pressão na pele (urticária por pressão tardia), ao se expor ao sol (urticária solar), ao contato com o frio (urticária ao frio), ao contato com a água (urticária aquagênica), por aumento da temperatura corporal como ao se exercitar (urticária colinérgica), entre outras.
Para confirmar a existência de uma urticária crônica induzida, deve-se sempre ser realizado o teste de provocação. Esses testes devem ser feitos em centros especializados para se evitar eventuais resultados falso-negativos e/ou reações indesejáveis durantes os mesmos.
Urticária Crônica Espontânea (UCE)
As urticas surgem de forma espontânea, o paciente não consegue provocar o surgimento. As lesões surgem na hora que querem e desaparecem na hora que querem. Não apresentam relação de surgimento com estímulo externo.
Alguns pacientes podem ter as duas apresentações da doença de forma simultânea.
Pode estar relacionada com doenças sistêmicas?
Pode estar associada a doenças crônicas infecciosas, reumatológicas ou autoimunes e nesses casos pode vir acompanhada de febre, mal-estar e dor articular, por exemplo.
Quanto tempo a UCE pode durar?
A UCE tem data para começar e data para acabar. É uma doença considerada benigna, com início, meio e fim. A cura da urticária acontece naturalmente e espontaneamente, podendo levar de 5 meses a 6 anos, em média para entrar em remissão.
Como realizar a investigação?
Em uma pessoa saudável, poucos exames precisam ser feitos para uma avaliação adequada. Não são recomendados testes cutâneos (prick teste) para alergia alimentar. O paciente que suspeita de alergia alimentar, pode apresentar uma extensa lista de alimentos suspeitos ou ter tentadas diversas dietas de restrição, das quais nenhuma fez diferença no curso clínico da doença.
Estes exames não dão o diagnóstico da urticária, mas vão excluir possíveis doenças que podem caminhar junto com a urticária, como infecções crônicas, doenças linfoproliferativas, autoimunes e autoinflamatórias. A alergia mediada por IgE não é causa de urticária crônica, por isso a dosagem de IgE específica para diferentes alimentos e alérgenos, não tem nenhum valor na investigação e não é recomendada.
Atualmente, os principais mecanismos associados à UCE são de natureza autoimune. No entanto, não existem exames disponíveis comercialmente que consigam confirmar esse diagnóstico, e mesmo que esses exames estivessem disponíveis não iria resultar em um melhor benefício terapêutico, não interferindo em nada na escolha do tratamento.
Tratamento:
O principal objetivo do tratamento é alcançar, sempre que possível, o controle completo dos sintomas, permitindo assim que o paciente possa viver com melhor qualidade de vida e, consequentemente, exerça suas atividades diárias sem prejuízos ou limitações. O tratamento deve seguir os princípios básicos de tratar o quanto for necessário e o mínimo possível, desde que os sintomas se mantenham controlados.
Do ponto de vista prático, ter a urticária sob controle, significa ausência de sintomas. Uma vez atingido o controle da doença, o tratamento deve ser mantido até que a urticária entre em remissão. Para isso é importante que o paciente seja reavaliado regularmente.
Poucas doenças existem protocolos de tratamento tão específicos quanto o tratamento da UCE, portanto o seu tratamento é realizado por etapas que são modificadas a cada 2 – 4 semanas se não houver resposta ao tratamento:
O medicamento mais utilizado é o anti-histamínico de segunda geração, que irá bloquear a histamina, melhorando os sintomas em 40% dos casos.
- 1ª linha de tratamento:
Anti-histamínicos de segunda geração. Além de eficientes, tem um ótimo perfil de segurança. Existem estudos com seguintes anti-histamínicos, mostrando eficácia no tratamento: bilastina, cetirizina, desloratadina, ebastina, fexofenadina, levocetirizina, loratadina e rupatadina.
Não existem estudos mostrando qual desses anti-histamínicos seria o melhor em termos de eficácia e segurança para o tratamento da urticária, mas na vida real os pacientes podem sentir diferenças de eficácia entre um anti-histamínico e outro. Porém, não existem estudos também mostrando que na ausência de resposta a um determinado anti-histamínico, deva existir a troca de molécula, pois isso pode retardar o controle da doença e prolongar ainda mais o sofrimento do paciente.
A doença pode demorar anos para entrar em remissão, por isso o tratamento da UC é longo. Os anti-histamínicos devem ser tomados diariamente, de forma regular e contínua, e não apenas quando aparecerem os sintomas, de forma a prevenir o aparecimento dos sintomas, proporcionando melhor qualidade de vida para esse paciente
- 2ª linha de tratamento:
Quando o paciente não consegue controlar a urticária crônica espontânea com a dose do anti-histamínico de segunda geração, aprovada em bula, uma dose maior deve ser oferecida, e essa dose pode ser duplicada e depois quadruplicada, se houver necessidade, não podendo passar dessa dose pelo risco de aumentar a frequência de efeitos adversos.
Cerca de 50% dos pacientes com UCE não respondem às doses habituais dos anti-histamínicos, e por isso há a necessidade do aumento dessa dose para controle da doença. Não é recomendado combinar diversos tipos de anti-histamínicos diferentes ao mesmo tempo. O uso de um mesmo anti-histamínico em doses altas demonstrou ser superior à combinação de diferentes anti-histamínicos no controle do prurido.
- 3ª linha de tratamento:
O omalizumabe é indicado como terceira linha de tratamento para os pacientes com urticária refratária aos anti-histamínicos de segunda geração. É recomendado adicionar o omalizumabe, na dose de 300 mg a cada 4 semanas ao tratamento com os anti-histamínicos de segunda geração.
Estudos mostraram que o omalizumabe foi eficaz em controlar os sintomas de 84% dos pacientes com UCE não controlada com anti-histamínicos. O medicamento se mostrou seguro, com poucos efeitos colaterais, sendo os mais frequentes: cefaleia, artralgia e reação no local da injeção.
Em resumo:
A urticária crônica pode atrapalhar e muito a qualidade de vida dos pacientes, e o objetivo desse texto é informar que existe tratamento para essa doença. Não se auto medique e nem negligencie a sua saúde. Agende agora mesmo uma consulta médica para avaliação da sua doença.
Conte comigo para te ajudar nessa trajetória,
Dra Caroline Ferreira Cury.
Fonte:
http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=1264
https://asbai.org.br/wp-content/uploads/2022/09/EBOOK-ASBAI-URTICÁRIA_30-09-2022.pdf