Dra. Caroline Ferreira Cury – Alergista e Imunologista

A alergia ocular ou conjuntivite alérgica, é uma condição comum que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Elas podem causar desconforto significativo e afetar a qualidade de vida dos pacientes. Neste artigo, exploraremos em detalhes o que é a alergia ocular, seus sintomas, causas e opções de tratamento disponíveis.

conjuntivite alérgica

O que é alergia ocular (conjuntivite alérgica)?

A alergia ocular, também conhecida como conjuntivite alérgica, é uma reação inflamatória que ocorre na superfície ocular, envolvendo a conjuntiva, a córnea e as pálpebras, quando os olhos entram em contato com substâncias irritantes ou alérgenos. 

Quais os sintomas da alergia ocular?

Os sintomas da alergia ocular podem variar de leve a grave e podem incluir:

• Prurido ocular (coceira nos olhos).

• Hiperemia conjuntival (vermelhidão).

• Lacrimejamento excessivo.

• Secreção ocular clara.

• Sensação de visão embaçada.

• Sensação de corpo estranho nos olhos (olho arranhando).

• Sensibilidade à luz (fotofobia).

• Inchaço das pálpebras.

• Olhos doloridos ou sensíveis.

alergia ocular

Esses sintomas podem ocorrer de forma sazonal, como durante a primavera, quando há um aumento na contagem de pólen no ar, ou podem ser persistentes, ocorrendo ao longo do ano devido a alérgenos internos, como ácaros ou pelos de animais.

Como classificar a doença?

De acordo com a intensidade e frequência dos sintomas conseguimos classificar a doença como leve, moderada ou grave. 

  • Leve: Sinais e sintomas não incomodam; sem desconforto visual; Não interferem nas tarefas escolares e no trabalho; não dificultam as atividades do dia a dia, leitura e/ou esportes. 
  • Moderado (de 1 a 3 itens): Sinais e sintomas incomodam; Tem desconforto visual; Interferem nas tarefas escolares e no trabalho; Dificultam as atividades do dia a dia, leitura e/ou esportes. 
  • Grave (todos os itens): Sinais e sintomas incomodam; Tem desconforto visual; Interferem nas tarefas escolares e no trabalho; Dificultam as atividades do dia a dia, leitura e/ou esportes. 

Quais os tipos de alergia ocular?

• Conjuntivite alérgica perene

Apresentam sintomas durante o ano todo e são provocados por alérgenos internos da casa, como ácaros da poeira, epitélios de cão e gato, mofos. Frequentemente apresentam história familiar e predisposição genética, bem como a associação com rinite alérgica.

• Conjuntivite alérgica sazonal

Apresentam sintomas em determinadas épocas do ano, durante a estação do pólen da primavera, principalmente na região sul do Brasil. Geralmente é hereditária e familiar, e frequentemente está associada com rinite.

• Ceratoconjuntivite vernal ou primaveril

É uma forma mais grave de alergia ocular, acometendo crianças e adolescentes, em países de clima quente e seco. Pode haver envolvimento da córnea com risco de agravamento do quadro e evolução para perda visual permanente.

• Ceratoconjuntivite atópica

É outra forma grave de alergia ocular que acomete as pálpebras e a córnea. Diferente da ceratoconjuntivite vernal, os adultos são mais afetados. Há associação com dermatite atópica em mais de 90 % dos casos.

• Dermatoconjuntivite de contato

Esta forma de alergia ocular se caracteriza pela presença de dermatite nas pálpebras. Os principais desencadeantes são cosméticos, colírios, bem como conservantes e soluções para limpeza de lentes

• Conjuntivite papilar gigante

A conjuntivite papilar gigante não é propriamente uma alergia ocular. Existe uma resposta imunológica secundária a um corpo estranho no olho. Os principais exemplos são as lentes de contato, próteses e cirurgias.

alergia ocular

Existem algumas doenças que podem estar associadas à alergia ocular?

Sim. A rinite alérgica é a mais comum delas, caracterizando a chamada rinoconjuntivite alérgica. Os pacientes acabam percebendo mais os sintomas nasais do que os oculares, e por isso negligenciam o tratamento. Outras doenças alérgicas também podem ser observadas como asma e dermatite atópica.

O que pode causar a conjuntivite alérgica?

As substâncias presentes no ar que podem ocasionar alergias, chamados de aeroalérgenos, são as causas mais frequentes de desencadear alergia ocular. 

Os principais são:

• Ácaros, alérgenos mais comuns.

• Fungos.

• Epitélios de animais como cães, gatos e outros.

• Pólens (região sul do Brasil – primavera).

Como é feito o diagnóstico da conjuntivite alérgica?

É feito baseado na história clínica dos sintomas e auxiliado por testes alérgicos que detectam a presença do anticorpo IgE ao alérgeno ao qual o indivíduo é sensível. Estes testes podem ser realizados no sangue (dosagem da IgE específica) ou na pele (teste cutâneo por puntura ou “prick test”). 

Leia também, sobre os tipos de testes: https://dracarolinecuryalergista.com.br/testes-alergicos/

Como é feito o tratamento?

Prevenção: Para evitar o aparecimento dos sintomas.

Medicamentoso: Reduz a inflamação alérgica ocular e melhora os sintomas.

Imunoterapia (vacina): Visa tornar o indivíduo mais tolerante ao alérgeno.

Medicamentos de uso local:

São os colírios, os mais indicados para o tratamento das alergias nos olhos. Existem vários tipos de colírios que serão escolhidos pelo médico de acordo com a frequência e intensidade dos sintomas da alergia.

colírio para conjuntivite alérgica

Medicamentos de uso sistêmico:

São indicados para os casos mais graves, que não melhoram apenas com o tratamento local. As medicações mais usadas são: corticoides (uso por períodos curtos), imunossupressores como a ciclosporina, até mesmo os imunobiológicos como a anti-IgE.

Conjuntivite alérgica crônica  – ceratoconjuntivite

As conjuntivites alérgicas são consideradas formas benignas de alergia ocular, apesar de interferir muito na qualidade de vida. Mais raramente, o olho pode ser acometido por outros tipos de alergia ocular, com sintomas persistentes, podendo evoluir de forma mais grave e causar danos à visão.

Aqui se incluem as ceratoconjuntivites, assim chamadas pois a inflamação crônica, além de acometer a conjuntiva, atinge também a córnea.

Qual a principal complicação?

ceratocone complicação conjuntivite alérgica

Ceratocone é uma alteração progressiva e não inflamatória da córnea, uma estrutura transparente situada na frente do olho. À medida em que essa alteração progride, ocorre o afinamento e a projeção da córnea para fora, que assume a forma de um cone. 

Essa alteração na forma da córnea leva ao aparecimento de alto grau de astigmatismo e miopia, com comprometimento visual.

Apesar da causa não ser conhecida, foi observado que o atrito intenso provocado pelo ato de coçar os olhos, que ocorre em todos os tipos de alergia ocular, contribui para o aparecimento e a progressão do ceratocone.

O ceratocone costuma ser diagnosticado na segunda década de vida, durante a puberdade, quando ocorre uma acentuação da deformidade. Visão borrada, desconforto com a luz e dificuldade para ver imagens à noite podem ser sintomas do ceratocone. O aumento progressivo do grau dos óculos ou lentes de contato pode representar um sinal de progressão e deve levantar a suspeita de ceratocone em crianças e adolescentes.

O controle da alergia e da coceira nos olhos é a melhor medida para evitar o aparecimento deste distúrbio, bem como o uso de óculos e de lentes de contato. Nos casos mais avançados, pode haver a necessidade de transplantes de córnea.

Qual o médico trata conjuntivite alérgica?

A alergia ocular deve ser acompanhada em conjunto por médico alergista e oftalmologista. Nos casos crônicos, com comorbidades, outros profissionais podem ser envolvidos.

O alergista identifica os alérgenos causadores da alergia ocular, orienta o controle ambiental para reduzir a exposição aos fatores desencadeantes, planeja e acompanha a imunoterapia com alérgenos (vacinas) para controle efetivo da doença alérgica.

O oftalmologista, com aparelhagem própria, avalia a integridade da conjuntiva inflamada, pálpebras e possíveis alterações da córnea, decorrente da inflamação alérgica. Além disso, é fundamental sua participação para confirmação diagnóstica nos casos atípicos.

A abordagem multidisciplinar e o diálogo entre os profissionais envolvidos são fatores essenciais para alcançar o sucesso no tratamento.

Fonte: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov

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